quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cantiga de amor


A Cantiga da Guarvaia, também conhecida com Cantiga da Ribeirinha, que foi composta por Paio Soares de Taveirós(na foto retratado por Francisco de Goya, em 1820), provavelmente, no ano de 1198 é o primeiro texto literário da Língua Portuguesa de que se tem registro.



Guarvaia, em Portugal, naquela época, era uma espécie de manto luxuoso.













E Ribeirinha era o apelido da moça para quem essa cantiga foi escrita. E que talvez tivesse esse nome porque morasse ou estivesse na beira de um rio (???)


A cantiga da Guarvaia (ou da Ribeirinha) é uma cantiga de amor. E nas Cantigas de amor o eu-lírico, ou seja, o sujeito que canta o poema, é sempre masculino, ou seja, um homem. É sempre um homem cantando para uma mulher.








O assunto principal dessas cantigas é o sofrimento amoroso do carinha pobre perante uma mulher idealizada e distante. Inspirados pelo regime histórico-econômico da época - o Feudalismo, os poetas, ao comporem suas cantigas sempre se colocavam numa posição abaixo da mulher, numa espécie de vassalagem amorosa. Ou seja, o amor impossível.








Se você prestar atenção até que as coisas não muito de lá pra cá, não é? Os cantores populares no Brasil de hoje, por exemplo, continuam fazendo as velhas "cantigas de amor". É só você dar uma analisada nas letras de pérolas como: Lá vai a chalana, Fuscão preto, Pense em mim... (aliás, essa última canção é tão "cantiga de amigo que no áudio e vídeo abaixo você poderá ouvir a "Cantiga da Guarvaia" cantada com a melodia desse clássico imortalizado pela dupla Leandro e Leonardo)




Cantiga da Guarvaia (ou da Guarvaia)
(original de Paio Soares de Taveirós)


No mundo nom me sei parelha,
mentre me for como me vai;
ca ja moiro por vós, e ai!,
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia?
Mao dia me levantei,
que vos entom nom vi feia!

E, mia senhor, des aquelha,
me foi a mi mui mal di' ai!
E vós, filha de Dom Pai
Moniz, en bem vos semelha
d' haver eu por vós garvaia?
Pois eu, mia senhor, d' alfaia
nunca de vós houve nem hei
valia d'ua correia!



Cantiga da Guarvaia (ou da ribeirinha)
(versão de Ivan Lovison)


No mundo não conheço ninguém

que se compare a mim em infelicidade

Enquanto minha vida continua como vai indo,

porque já morro de amor por vós, e ai!

Minha senhora vestida de branco

e de faces rosadas,

Quereis que eu vos descreva

quando eu vos vi sem manto!


Em infeliz dia me levantei,

pois vos vi bela, e não feia!

E, minha senhora, desde aquele dia, ai!

Tudo ocorreu muito mal para mim,

E vós, filha de Dom Paio Moniz,

parece-vos suficiente e satisfatório,

Que eu deva receber, por vosso intermédio,

uma guarvaia (por pintar vosso retrato);


Pois eu, minha senhora,

como prova de amor,

nunca de vós recebi, nem receberei

Nem o simples valor de uma correia.

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